As seitas fundamentalistas, travestidas de evangélicas, - desde quando acusar, caluniar, difamar, injuriar e julgar alguém é evangélico? - fazem do culto às imagens verdadeiro cavalo de batalha.
Há os analfabetos de fato; também há uma legião de analfabetos funcionais, que sabem ler letras e palavras, mas incapazes de assimilar o sentido de frases abstratas. Saber ler e escrever não são requisitos, para entender o que a Bíblia nos revela.
Como a Bíblia não é um livro ocidental, mas oriental, escrita - em hebraico, aramaico e grego, é indispensável conhecimentos históricos, geográficos, antropológicos, arqueológicos, lingüísticos, exegéticos, - teológicos etc. Para compreender a proibição das imagens é necessário conhecer o ambiente religioso antigo.
Todos os povos que se relacionavam com Israel acreditavam que a imagem não somente era um símbolo da divindade, mas que a própria divindade nela habitava maneira real. A imagem era de certa forma o mesmo Deus representado.
Na mentalidade primitiva oriental, na imagem da divindade residia um fluído pessoal divino. Quando alguém fabricava uma imagem, o deus nela habitava, já que toda imagem, de algum modo tinha uma "epiclesis", - isto é, um chamado para deus nela habitar. Era uma espécie de "clone" da divindade simbolizada na imagem:
Por isso, quando Raquel esposa de Jacó, rouba os ídolos de seu pai Labão, ele se queixa de que lhe roubaram seus deuses, não as imagens (Gn 31,30). Na história de Micas, este acusou a tribo de Dã de que lhe - roubaram o seu deus, enquanto estes marchavam só com a imagem (Jz 18,27).
Passaram-se os séculos. O ambiente grego fez com que os homens - fossem não mais escravos da magia, mas se deixaram influenciar pelo pensamento filosófico e racional. Isto contribuiu para diminuir a idéia fetiquista das imagens divinas. Aos poucos Israel foi compreendendo que Javé era o único Deus de todos os povos; que não existiam divindades distintas para outras nações.
Por isso, qualquer imagem, altar, oração ou culto que se celebrava em qualquer lugar, ou idioma, era dedicado somente a Deus. Assim o perigo de crer que se adorava a deuses estrangeiros desapareceu.
Em alguns casos o próprio Deus ordenou o fabrico de imagens sagradas. Durante a travessia do deserto, quando Javé mandou fabricar a arca da Aliança, tabernáculo sagrado destinado a guardar as tábuas da Lei, ordenou que de cada lado se pusesse uma imagem de ouro de um querubim, ser angélico, dividida metade animal, metade homem (Ex 25,18).
Por outro lado o candelabro de sete braços que se colocava no interior da Tenda Sagrada tinha gravada flores de amêndoa (Ex 25,33). Estes fatos não são prescrições humanas. Segundo a Bíblia o próprio Deus inspirou com seu Espírito o artista Beseleel, dando-lhe habilidade e perícia para criá-las (Ex 31, 1-5).
Gedeão, um dos mais importantes juízos de Israel, fabrica com anéis e outros objetos de ouro uma imagem de Javé, a quem os israelitas prestaram culto (Jz 8,24-27). E Micasm famoso e piedoso javista, fabricou uma efígie de prata de Javé e edificou um santuário para prestar-lhe culto (Jz 17.19,11-13; 18,24-30).
E com se tudo isso não bastasse, com permissão de Javé (Nm 21,8-9), uma enorme serpente de bronze foi erguida por Moisés no deserto. A todos, picados por víboras, ao contemplá-la ficavam curados. Ela ficou exposta no templo durante duzentos anos, até que o rei Ezequias a destruísse (2Rs 18,4).
Se na antiga Aliança, Deus se revela (Ex 19,3-25) ao povo, sem imagem, na Nova Aliança considerou imprescindível ter uma para ser visto. Deus mesmo desde agora, quando não há mais perigo, revela-se aos homens mediante - uma imagem, a de Cristo, para que o vissem, olhassem, tocassem, sentissem. Paulo apóstolo que viveu durante muito tempo fiel a antiga Lei, compreendeu muito bem, a nova disposição ao falar de "Cristo a imagem do Pai" (2Cor 4,4). Em maravilhoso hino, canta que "Cristo é a imagem de Deus invisível" (Cl 1,15). Cristo Jesus dialogando com o apóstolo Filipe, antecipa-o com esta revelação: "Quem me viu, viu o Pai" (Jo 14,9).
Os ícones sagrados venerados pelo catolicismo e as igrejas cristãs Russa, Grega e Armênia, não são divinas, pois não são deuses. São símbolos de irmãs e irmãos nossos que em sua peregrinação terrestre, tornaram-se páginas vivas do Evangelho com o testemunho de vida cristã.
Para citar este artigo:
SSP, Frei Juvenal R Dias. Apostolado Veritatis Splendor: O CULTO AOS ÍCONES SAGRADOS. Disponível em http://www.veritatis.com.br/article/673. Desde 1/6/2003.